
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) anunciou nesta terça-feira (3) que deixou o Brasil e que irá solicitar uma licença não remunerada de seu mandato. O comunicado foi feito em uma transmissão no YouTube, vinte dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) condená-la a 10 anos de prisão pela invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Zambelli não revelou o país em que se encontra, mas afirmou que pretende se estabelecer na Europa, aproveitando o fato de possuir cidadania europeia. “Estou fora do Brasil já faz alguns dias. Vim a princípio buscar tratamento médico que já realizava aqui e, agora, vou pedir afastamento do cargo”, declarou.
A parlamentar afirmou que sua saída não representa uma fuga, mas um ato de resistência. “Não é desistir do país. Muito pelo contrário: é resistir. É voltar a ser a Carla que eu era antes das amarras que essa ditadura nos impôs”, disse, prometendo denunciar a situação política brasileira em cortes e instituições europeias.
Passaporte e possível reação do STF
Embora tenha sido condenada, Zambelli pôde sair do país porque o STF devolveu seu passaporte, que havia sido apreendido no contexto das investigações. A liberdade de circulação está permitida até que sejam julgados os recursos apresentados por sua defesa, os chamados embargos de declaração. No entanto, a saída do país pode levar a Corte a reavaliar medidas cautelares, como uma nova retenção do passaporte ou até a expedição de mandado de prisão, caso os recursos sejam rejeitados.
Perda de mandato e inelegibilidade
Zambelli foi condenada à perda de mandato, mas a decisão ainda precisa ser oficializada pela Câmara dos Deputados. A deputada já está inelegível por oito anos, condição que não depende do trânsito em julgado da sentença. No entanto, essa contagem só começará após o cumprimento da pena, o que, na prática, pode deixá-la fora da vida pública por ao menos 18 anos.
Ataque ao CNJ e papel de Zambelli
A condenação de Zambelli refere-se à invasão dos sistemas eletrônicos do CNJ em janeiro de 2023. Segundo a Polícia Federal, o ataque foi executado pelo hacker Walter Delgatti Neto, que teria agido sob orientação da parlamentar. Delgatti confessou ter recebido textos redigidos por Zambelli para inserir no sistema e pagamentos de ao menos R$ 13,5 mil. O objetivo da invasão teria sido emitir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
A defesa da deputada alega “cerceamento de defesa”, argumentando que não teve acesso completo às provas, como os 700 GB de dados armazenados na nuvem. Por isso, pede anulação da sentença e reversão das penas aplicadas.
Licença semelhante à de Eduardo Bolsonaro
Zambelli citou o colega de partido Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que também deixou o país e solicitou licença do mandato. A deputada afirmou que seguirá o mesmo caminho e pediu compreensão ao público: “Tem essa possibilidade na Constituição. Acho que as pessoas conhecem mais agora por causa do Eduardo”.
Doenças, pedidos de Pix e mágoas
Nas últimas semanas, Zambelli tem alegado problemas de saúde graves, como a síndrome de Ehlers-Danlos, que segundo ela a tornaria incapaz de suportar o regime carcerário. Em meio à condenação, ela também pediu doações via Pix a seus seguidores para arcar com custos judiciais e multas, afirmando não ter condições financeiras de bancar os processos.
Em março, a deputada foi responsabilizada por Jair Bolsonaro pela derrota eleitoral de 2022, em razão do episódio em que sacou uma arma e perseguiu um homem em São Paulo. “Aquela imagem… A gente perdeu”, disse o ex-presidente. Zambelli respondeu: “Mais fácil botar a culpa em outra pessoa quando você sai perdedor”.
A situação de Zambelli segue gerando desdobramentos no Judiciário e no meio político. A expectativa agora é sobre a resposta do STF à saída do país e ao pedido de licença, além do desenrolar dos recursos apresentados por sua defesa.