
O aumento de acidentes envolvendo motociclistas tem impactado diretamente o Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), referência em cirurgias ortopédicas de alta complexidade. Só em 2024, 1.450 procedimentos eletivos deixaram de ser realizados devido à demanda emergencial, sendo que um em cada cinco pacientes transferidos era vítima de sinistro com moto. A situação levou o instituto a registrar, em 2025, uma média de cinco novas cirurgias de emergência por semana.
Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 2010 e 2023, mais de 1,4 milhão de motociclistas foram internados no Brasil por acidentes, representando 57,2% das internações por lesões no trânsito. O custo hospitalar dessas internações ultrapassa R$ 2 bilhões, com destaque para os trabalhadores de aplicativo, que já somam mais de 20% das vítimas atendidas nos prontos atendimentos.
De acordo com a diretora do Into, Germana Lyra Bähr, além do custo elevado, essas emergências exigem internações prolongadas, uso de antibióticos caros e uma longa jornada de reabilitação. “Nosso problema não é orçamentário, é físico. Não há estrutura suficiente para atender à alta demanda”, afirma. O envelhecimento da população também pressiona a fila de cirurgias eletivas, agravando ainda mais o cenário.
Casos como o do entregador Eduardo Barbosa, que passou por dezenas de cirurgias e enfrenta anos de tratamento após um acidente, ilustram os impactos sociais e econômicos da crise. Terapeutas do Into relatam que 90% dos pacientes são motociclistas, muitos com sequelas permanentes e sem cobertura previdenciária. O crescimento desordenado do uso de motos para trabalho e mobilidade exige, segundo especialistas, uma resposta urgente em políticas públicas de prevenção.