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Sindicato dos Comerciários chega aos 61 anos como voz de resistência

Entre conquistas históricas e desafios de esvaziamento da mobilização sindical, entidade reafirma papel de enfrentamento na defesa dos trabalhadores e na luta contra a precarização e a valorização dos trabalhadores vinculados ao comércio

O Sindicato dos Empregados no Comércio de Santa Cruz do Sul e Região completa 61 anos nesta quinta-feira, 21 de agosto, sustentando uma trajetória marcada por enfrentamentos e conquistas. A entidade esteve à frente de uma greve histórica em 1987 que paralisou mais de 70% dos trabalhadores no município, mobilizou a sociedade contra a privatização da Corsan em 2011, garantiu o barramento do trabalho aos domingos e feriados e hoje encara o desafio de resistir ao esvaziamento da mobilização sindical, mantendo-se como voz ativa na defesa dos direitos da categoria e dos serviços públicos.

O tesoureiro Afonso Schwengber, que presidiu o Sindicato por muitos anos, lembra que a greve geral de 20 de agosto de 1987 foi um divisor de águas para o movimento sindical da região. Segundo ele, mais de 70% dos trabalhadores cruzaram os braços, num ato que denunciou a exploração e as condições precárias de trabalho. “Era a prova de que não aceitaríamos mais a submissão. Foi um marco que demonstrou a força da classe organizada”, afirma Schwengber.

Ele recorda ainda que a partir daquele momento o Sindicato assumiu um papel ampliado, articulando a criação e o fortalecimento de associações de moradores para que a população pudesse reivindicar de forma organizada junto ao poder público. Também em 1987, a entidade passou a integrar outros municípios ao Sindicato de Santa Cruz, consolidando-se como uma instituição regional. “Nós organizamos a região toda, integramos os municípios para fortalecer a luta. O Sindicato não é apenas de Santa Cruz, é um sindicato regional, e isso deu mais peso à nossa atuação. A luta nós vamos continuar travando”, reforça Schwengber.

Ele também destaca a mobilização contra a privatização da água, que teve início em 2011, quando a venda da Corsan passou a ser discutida. O dirigente recorda que o Sindicato foi protagonista na luta, articulando debates e manifestações em defesa da causa. “Chamamos a comunidade, trouxemos o tema para o centro do debate e mostramos que a água não é mercadoria. Essa resistência ajudou a retardar o processo e revelou a importância da ação coletiva”, ressalta Schwengber.

Para a presidente Adriana Helfer a comemoração dos 61 anos é motivo de orgulho e reflexão, pois traduz a caminhada de uma categoria que nunca se curvou diante das pressões do capital. Para ela, o Sindicato carrega a responsabilidade de manter a defesa intransigente dos comerciários, sobretudo em um cenário de enfraquecimento da legislação trabalhista e de ataques constantes aos direitos já conquistados. Adriana afirma que cada conquista só foi possível porque houve resistência, organização e mobilização. “Nossa responsabilidade é não retroceder. Somos a voz de milhares de comerciários que contam com o Sindicato para garantir condições mais dignas de trabalho. É essa confiança que nos move a seguir firmes na luta”, enfatiza.

Contra o trabalho aos domingos

Outro ponto considerado central pelo tesoureiro é a luta que resulta no barramento do trabalho aos domingos e feriados. Ele reforça que a defesa da entidade está baseada na ausência de estruturas públicas mínimas para dar suporte a essa proposta. “Não existe creche aberta à noite ou em fins de semana, não existe transporte público nesses horários. Permitir jornadas sem essas condições seria desumano. Por isso, sempre defendemos que só pode haver atividade nesses períodos mediante acordo coletivo homologado pelo Sindicato”, pontua Schwengber.

Na avaliação de Schwengber, o presente e o futuro exigem mais firmeza das entidades. Ele critica a aproximação de sindicatos com governos, o que teria contribuído para o esvaziamento da mobilização e para o distanciamento das bases. “Essa postura fragilizou a luta. O desafio agora é retomar a constância e a firmeza. O capital nunca recua e está sempre tentando arrancar mais dos trabalhadores. Cabe a nós resistir”, adverte Schwengber.

Sede de Venâncio Aires

Cenário futuro

O futuro do movimento sindical passa pela reconstrução da confiança dos trabalhadores. O enfraquecimento da legislação e a retirada de direitos refletem diretamente na queda das associações e das contribuições. Reconectar a base e reafirmar a luta coletiva é o principal desafio para que o Sindicato continue sendo instrumento de transformação e resistência. “Se não conseguirmos conectar o trabalhador, a luta perde sentido. É aí que precisamos insistir”, observa Schwengber.

Além disso, a entidade projeta manter sua atuação em pautas mais amplas, como a defesa dos serviços públicos e o enfrentamento às reformas que precarizam o trabalho. O fortalecimento da mobilização será determinante para que o Sindicato preserve conquistas e continue a representar uma das maiores categorias da região.

Serviços e benefícios

O Sindicato dos Comerciários mantém sede própria e sede social, onde oferece serviços que se somam à luta pelos trabalhadores. Entre eles, atendimentos odontológicos com valores diferenciados aos associados, convênios médicos e parcerias em diferentes áreas de saúde. A estrutura busca atender demandas concretas e aliviar custos para os trabalhadores. “São benefícios que fazem diferença no dia a dia. O comerciário precisa sentir que o Sindicato está presente não só na luta, mas também no cuidado”, acrescenta Adriana.

Com base em Santa Cruz do Sul, a entidade representa comerciários de 12 municípios: Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Venâncio Aires, Mato Leitão, Candelária, Sobradinho, Arroio do Tigre, Segredo, Salto do Jacuí, Vale do Sol, Sinimbu, Gramado Xavier. Trata-se de uma das maiores categorias do Vale do Rio Pardo, em uma região onde o comércio é a terceira força econômica.

FOTOS: ARQUIVO SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS 

Fonte
FOTOS: ARQUIVO SINDICATO DOS COMERCIÁRIOS

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