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Após quase um ano, programa Voa Brasil vende só 1,37% das passagens prometidas

Com baixa adesão e problemas técnicos, programa lançado pelo governo Lula enfrenta entraves e críticas; expectativa de ampliação a estudantes do Prouni ainda não se concretizou

O programa Voa Brasil, criado para democratizar o acesso ao transporte aéreo por meio da venda de passagens a R$ 200 por trecho, ainda não conseguiu “decolar” como pretendia o governo federal. Prestes a completar um ano de lançamento, o projeto atingiu apenas 1,37% da meta de 3 milhões de bilhetes anunciada inicialmente.

De acordo com dados do Ministério de Portos e Aeroportos, foram vendidas apenas 41.165 passagens entre julho de 2024 e maio de 2025, com queda no ritmo nos últimos meses. Em janeiro foram emitidos 5.308 bilhetes, número que caiu para 2.604 em maio — uma redução de 17% em relação a abril.

Em maio, problemas técnicos na plataforma da Gol resultaram na venda de apenas dez passagens pela companhia. A Latam liderou com 1.851 bilhetes vendidos no mês, seguida pela Azul com 743. No acumulado, a Latam responde por 42,6% das reservas, a Gol por 42% e a Azul por 15%.

Sem verba pública, programa depende de assentos ociosos

Lançado em julho de 2024 pelo então ministro Márcio França, o Voa Brasil não utiliza recursos públicos. O funcionamento depende da oferta voluntária de assentos ociosos por parte das companhias aéreas, preferencialmente durante a baixa temporada. A livre precificação e definição de rotas, garantida desde a criação da Anac em 2006, limita a abrangência do programa.

Atualmente, o Voa Brasil é restrito a aposentados do INSS que não tenham viajado de avião nos últimos 12 meses. A promessa de estender a iniciativa a estudantes do Prouni ainda não foi cumprida, pois o Ministério de Portos e Aeroportos aguarda consolidação de dados do Ministério da Educação.

Críticas à concepção e à execução

Especialistas apontam falhas estruturais no programa. O advogado André Soutelino, da A.L.D.S Sociedade de Advocacia, avalia que, além do valor de R$ 200 ser apenas para o trecho (sem incluir tarifas de embarque ou outros custos), o acesso à plataforma digital é difícil para a maioria dos aposentados, especialmente os com baixa familiaridade com tecnologia.

“O preço até parece atrativo, mas não cobre todos os custos da viagem. E o público-alvo, em sua maioria, vive com um salário mínimo, o que torna inviável arcar com os gastos”, destacou Soutelino. Para ele, o foco deveria estar em políticas de incentivo a voos regionais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

Governo mantém discurso de função social

Apesar da frustração com os números, o Ministério de Portos e Aeroportos defende que o Voa Brasil cumpre papel social, ao facilitar o acesso de pessoas de baixa renda ao transporte aéreo. O governo ressalta que os 3 milhões de bilhetes eram uma estimativa do que as companhias poderiam disponibilizar, e não uma meta obrigatória.

As companhias aéreas preferiram não comentar diretamente os resultados. A Gol e a Latam indicaram que apenas o ministério pode responder sobre metas e estatísticas do programa. Já a Azul, em nota, considerou a iniciativa “positiva” e afirmou que ela está alinhada com o compromisso da empresa em ampliar a inclusão no transporte aéreo.

Enquanto isso, os preços médios das passagens seguem altos. Dados da Anac mostram que, em abril, a tarifa média dos voos domésticos foi de R$ 588,38. Cerca de 55% dos bilhetes custaram até R$ 500, mostrando que promoções e compras antecipadas ainda são, muitas vezes, mais vantajosas do que o programa Voa Brasil.

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